01/11/2014

Entre o nosso meio

                     

Quando alguém me pede para me lembrar de você, ou falam de você, não me lembro do nosso primeiro beijo. Nem do primeiro encontro, o primeiro abraço, o primeiro eu-te-amo. Não me lembro dos últimos também. Não me lembro da primeira vez em que você visitou a minha casa, de como eu estava toda sem graça, sem saber direito como agir com você e comigo mesma já que estávamos a sós. Não me lembro de quando me deixou falando sozinha no ponto do ônibus, nem de quando você bateu a porta e me deixou em meio a tantos questionamentos: "que raios eu tinha feito de errado pra você deixar de me amar, assim, do nada?" (tola, sem saber que, na verdade, a gente deixa de amar mesmo é aos pouquinhos).

A primeira coisa que me vem à cabeça quando alguém fala seu nome não é nosso começo espontâneo, nem nossos fins reticentes. É o nosso meio. É ali que eu te encontro. Naquele durante em que eu já te conhecia o suficiente para te amar como louca, mas sabia pouco da vida e, por isso, tinha medo do amor.

Eu me lembro dos sorrisos que você me dava tarde da noite, na escuridão do quarto, antes de ficar me mandando embora poque já estava tarde no meio de uma semana qualquer. Eu me lembro das conversas sem sentido que a gente tinha depois de ver um filme com alguma reflexão filosófica no fim. E do quanto a gente sempre gostou de criar teorias- você, principalmente. Eu me lembro de você na rotina, no dia a dia, de segunda-a-sexta, quando a vida não era tão feliz e fácil como nos finais de semana. Porque eu sempre achei que tinha um pouco de vitória nos casais que conseguiam se amar na normalidade da semana, na ausência de grandes novidades, no amor sem grandes declarações.

Foi no meio que você me disse que eu era um pouquinho a sua salvação. "É por sua causa que eu vou passar nessa vida acreditando no amor. Porque tem coisa mais triste do que viver todos os dias e não acreditar nisso?". E eu nunca te disse de volta que você tinha me salvado também. Amar você, ainda que loucamente, é saber que o amor existe. O louco, o desenfreado, e o calmo e tranquilo. O amor que queima e o amor que apaga. Você me mostrou os dois.

Eu não sei te odiar pelo fim(que não exista nunca um fim) porque eu sempre vou me lembrar do meio. Entre o "eu te amo" e o "me esquece". Entre o "pra sempre" e o "nunca mais". Entre o "casa comigo?" e o "corta nosso amor aqui", quando eu juntava os dois dedos e você cortava com o seu, como uma espécie de tesoura. Aí eu ficava brava e fazia cara feia, você me beijava pra tentar desfazer a marra. Entre o "eu cuido de você" e o "se cuida". Entre o "o único amor da minha vida" e o "foi só meu primeiro amor". É pelo o que existiu entre os nossos extremos que eu te amo tanto. E é também por ele que, de alguma forma que eu não sei como explicar, eu continuo amando: a lembrança do quanto a gente foi feliz bate todos os dias na minha porta. Na esperança de que dias como aqueles voltem, ou que a gente tenha uma chance de vive-los novamente.

Li uma vez que a pior saudade é aquela que sentimos de alguém que está bem do nosso lado. Saudade de quem essa pessoa foi um dia. De alguma forma eu sigo te amando e sentindo a sua falta. Estamos juntos, vivendo o agora. E quanto aos nossos momentos, os nossos meios: ninguém nunca vai saber de tudo.



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