
Oi querido. Talvez agora, que você já está lendo essa carta, você esteja na nossa casa, sentado na nossa poltrona preferida de textura marrom, com a xícara azul na mão, tomando o café quentinho que preparei cedinho, antes de chegar aqui, e com o nosso cobertor. Eu sei cada detalhe, e sei que você iria ler essa carta exatamente aí. Por isso, vire-se. Em cima da mesinha de centro da nossa sala tem um envelope. Você vai achar estranho, vai achar loucura. Você sempre me chamava de louca, querido. Espero que hoje você tenha a certeza que sou. Abra o envelope, e você irá achar 365 cartas. Abra o envelope, e você achará um ano inteiro. Eu sei que andei meio perdida, mas ao abri-lo você acaba de me encontrar.
" Pra sempre, pra sempre e para sempre. Alguns infinitos são maiores que os outros".
Foi oque nós prometemos um a ao outro. Que essa minha doença maldita não iria nos afastar. Não iria transformar nosso infinito numa coisa menor. Meu bem, entenda uma coisa, algumas coisas, mesmo terminando, não acabam. Ficam para sempre guardadas em você, se transformam em um infinito, morrem por dentro e te constroem. Todo mundo é formado de pequenos infinitos. Pequenas lembranças. Alguns, são maiores que os outros. O nosso, pra sempre. pra sempre e para sempre.
Eu tinha tanto medo da morte, você sabe. Mas nas próximas trezentos e sessenta e cinco cartas você vai saber que não é tão ruim assim. Meu deus, a morte é rápida, singela. A vida é complicada, misteriosa. Você se lembra daquela manhã quando a enfermeira entrou no quarto do hospital e disse que eu teria apenas mais um ano de vida? Eu me lembro que você fez deste ano o melhor de todos. Realizou todos os meu desejos, colocou o mundo e cada pedaço dele aos meus pés. Você não sabe, é claro, mas a cada dia desse ano eu escrevi uma carta. São essas, que estão no envelope. Eu espero que você as leia, uma
a cada dia desse novo ano que você começa agora. Esse foi o jeito que eu encontrei de estar com você nesse novo ano. Acreditamos ficar tristes pela morte de uma pessoa, quando na verdade é apenas a morte que nos impressiona. Querido, eu não parti.
Eu vou estar sempre aí. O segredo do amor é maior do que o segredo da morte.
Estou me despedindo de você agora, escrevendo essa primeira carta desse ano, na cama da enfermaria , olhando para o aparelho que diz que logo vou morrer.
Querido, você ainda tem mais um ano comigo. Mais eu vou estar aí, pra sempre. Então, a cada manhã deste ano em que for ler uma carta, sente-se na nossa poltrona de textura marrom preferida. Pegue o nosso cobertor. É mesmo uma pena, amor, que o café já não esteja mais tão quentinho. Mas eu vou estar ao seu lado, você vai me sentir.
Peço desculpas, mas nosso amor não foi o suficiente para vencer a morte.
Mas uma coisa é certa: Alguns infinitos são maiores que os outros.
Nosso amor é o maior dos infinitos.
E a morte não é suficientemente infinita pra matá-lo.

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